“Mas logo se esqueceram do que ele tinha feito e não esperaram para saber o seu plano. Dominados pela gula no deserto, puseram Deus à prova nas regiões áridas. Deu-lhes o que pediram, mas mandou sobre eles uma doença terrível” (Salmo 106.13-15).
O antigo pecado da reclamação a Deus ganhou nova roupagem: “Tomar posse da bênção”. E se o leitor é simpático a essa expressão tão difundida pelas pregações irreverentes e triunfalistas de várias igrejas, especialmente as pentecostais, tome cuidado — a começar pela leitura desta pastoral.
Antes que alguém me pergunte, esta pastoral não é sobre aquele litro de leite que você comprou e estava azedo. Para esse tipo de reclamação, que não é pecado, há o Código de Defesa do Consumidor e outras organizações que o ajudarão caso uma conversa rápida com o gerente da mercearia não lhe garanta um novo litro de leite fresco ou até mesmo dois litros como cortesia da casa!
Todavia, o pecado da reclamação contra Deus é real, frequente, perigoso e todos os cristãos devem estar cientes das causas e consequências dessa transgressão que sobe às narinas de Deus com odor pior que o de leite azedo. Logo, o objetivo desta pastoral é fornecer um breve guia prático para sermos um povo que apenas “clama” a Deus.
O texto base que se encontra no Salmo 106 mostra como os israelitas cometeram o pecado da reclamação contra Deus após terem sido libertos do Egito e ao enfrentar algumas dificuldades na peregrinação no deserto até Canaã. Como todos temos nossos “desertos” vez por outra, é exatamente nessa circunstância que somos mais tentados a cometer o pecado da reclamação contra Deus.
Em primeiro lugar, deve-se evitar a causa desse pecado que começa com sua primeira etapa: o esquecimento (v.13a) dos benefícios que Deus traz aos salvos, mesmo quando isso tem um alto preço. Afinal, “aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?” (Rm 8.32). Deus permanece atento às nossas mais íntimas necessidades, mas ele administrará sua graça, soberanamente, de acordo com o seu propósito, não o nosso (Rm 8.28). Jamais podemos nos esquecer desses fatos, nem das provas que já recebemos disso.
Portanto, se o crente não tiver seu coração ancorado à rocha de Romanos 8.28-32, ele entrará rapidamente na segunda etapa: a impaciência (v.13b). Nessa etapa, seu coração vacilante inicia o processo de inquietação irreverente, dando amplo espaço para a ansiedade impulsionada pelos desejos do coração. Tão logo a segunda etapa é concluída, a terceira e última etapa se instala: ser dominado pelos desejos (v.14a) de seu coração. Durante essa etapa, frases piedosas como “seja feita a sua vontade e não a minha” costumam incomodar muito o crente e podem até ser úteis na identificação da etapa que antecede a “tomada da bênção”, ou melhor, o pecado da reclamação.
Cumpridas as três etapas, o crente é, então, lançado na rebelião contra Deus disfarçada de fé. E Satanás, astuto como é, consegue promover esse pecado até mesmo durante o tempo reservado à adoração a Deus: o culto. Não raro essa etapa ocorre durante cultos dominicais ou “cultos especiais” realizados em outros dias da semana por falsos mestres ou pregadores entorpecidos pela ignorância bíblica. Nesses cultos, as pessoas mostram uma rebeldia dissimulada, tomando posse das bênçãos ou as reivindicando, como se fossem senhores da graça divina.
Consumada a “tomada da bênção”, o crente volta para casa satisfeito com seus atos. Mas agora é tarde demais, infelizmente. A insurgência e rebelião disfarçada de piedade já chegou aos ouvidos de Deus que disciplinará o seu povo até que aprenda a nunca entrar na primeira etapa: o esquecimento dos benefícios que a graça sacrificial do Senhor trouxe aos salvos.
Durante a fase final — o juízo — há dois possíveis desfechos: o juízo direto ou a bênção seguida de juízo que pode ser interpretada como uma pseudo-bênção. Todavia, é na segunda hipótese — a da pseudo-bênção seguida de juízo — que os crentes que desconhecem a Palavra de Deus ficam mais perplexos: exigem de Deus a chuva para sua horta, Deus os atende enviando os primeiros pingos que caem molhando toda a terra e, após algum tempo, surge no horizonte o vendaval que destruirá não só sua horta, mas sua casa.
Antes de “tomar posse da bênção”, tome cuidado. Deus não deixará seus reclamantes irreverentes sem resposta.
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Fonte: Igreja Batista Redenção
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