sábado, 8 de março de 2014

Paquistanesa que dava aulas em casa cria escola para 1,2 mil crianças


Paquistanesa que dava aulas em casa cria escola para 1,2 mil crianças
Humaira Bachal sabe como ninguém como a falta de uma boa educação prejudica a sua comunidade. Ela tinha um primo que morreu porque sua mãe não podia ler a data de validade em um frasco de remédio. Ela conhece histórias de mulheres do seu bairro que morreram ao dar à luz em casa porque suas famílias não sabiam para enviá-las para o hospital.
"Estas histórias partem o meu coração e toda vez que eu me pergunto: ‘Por que as pessoas estão fazendo isso?’", diz Humaira, de 26 anos. "Acho que quando o meu povo for bem educado estes problemas vão diminuir."
 Aos 13 anos ela começou a ensinar outras meninas o que ela aprendeu na escola. Essas aulas em casa entre amigas se transformou no grande trabalho de sua vida - trazendo educação para crianças em Muwach Goth, bairro de classe operária situado na periferia de Karachi, cidade portuária do Paquistão. Lá, muitos pais não colocam as filhas na escola e até mesmo os meninos lutam para conseguir um aprendizado decente.
Humaira dirige uma fundação que ensina cerca de 1.200 meninos e meninas de sua comunidade. É a dona de uma história sobre como é possível mudar não só o seu próprio futuro, mas o das pessoas ao seu redor.
Com a ajuda de doações nacionais e internacionais – até a cantora Madonna deu dinheiro - a fundação está construindo uma nova casa de 18 quartos para abrigar a escola, que já conta com 33 professores.
Estudou escondida do pai
Como acontece em muitas comunidades pobres do Paquistão, a família de Humaira não queria educar a menina. Ela terminou a escola primária, mas seu pai a proibiu de continuar porque queria que ela se casasse. Com a ajuda da mãe, Humaira seguiu estudando em segredo. Ela escondia o uniforme escolar e os livros na casa de um amigo. Isso durou nove meses, até que um dia o pai dela descobriu.
Ela estava se preparando para ir para a escola para faz uma prova, mas seu pai chegou em casa mais cedo e questionou onde estava indo. Quando ele descobriu que ela tinha ido secretamente para a escola, ele ficou furioso e lhe deu um tapa no rosto. A mãe entrou na briga para defender a fila e mandou Humaira ir à escola.
O pai acabou cedendo, concordou que a filha terminasse os estudos, desde que ela se casasse com o homem que ele escolheu. Humaira acabou os estudos, fez faculdade, aprendeu inglês e está estudando para o mestrado. E ainda não se casou.
Sua dedicação atrai comparações com Malala Yousafzai, de 16 anos, a menina que se tornou símbolo do direito à educação para mulheres depois de sobreviver ao ser baleada na cabeça por um talibã em 2012. Humaira disse que ela não enfrentou qualquer tipo de violência, só a resistência dos mais velhos da comunidade.
Início
Humaira começou a dar aulas aos 13 anos, com a ajuda de sua irmã mais nova Tahira, em uma sala de aula improvisada em sua casa, ensinando cerca de 10 de suas amigas que não puderam ir à escola. Em dois anos ela já tinha 150 alunos. Ao mesmo tempo, ela pressionou as famílias no seu bairro para enviar seus filhos à escola, embora o pedido nem sempre foi bem recebido.
"A comunidade é composta de trabalhadores e pessoas que são trabalhadores não  qualificados. Então ela teve de convencê-los que a educação é importante para as crianças", disse o cineasta paquistanês Sharmeen Obaid-Chinoy, vencedor do Oscar de melhor documentário em 2012, que fez um filme sobre a escola de Humaira. "Aqui as pessoas têm de 8 a 10 filhos, e eles querem que seus filhos trabalhem."
A fundação que Humaira dirige oferece programas de orientação, exames de saúde para estudantes e formação de professores.
A escola pública que fica próxima mostra o estado deplorável da educação no Paquistão. O prédio de dois andares parece abandonado, sem janelas ou móveis e sem portas no banheiro. Depois da aula, o professor enrola o tapete do piso de concreto e o esconde em uma fábrica em frente para ele não ser roubado.
Por outro lado, o novo edifício em construção para a escola de Humaira já tem um andar concluído. Os alunos têm cadeiras e mesas em salas de aula com paredes decoradas com material didático produzido por eles. Há banheiros separados para meninos e meninas.
Humaira tenta empregar técnicas modernas de ensino em vez da “decoreba” vista em muitas escolas do Paquistão. Meninos e meninas frequentam as aulas juntos, mesmo nas classes superiores, que muitas vezes são segregadas no país.
A jovem diz que ainda enfrenta muita resistência, mas não desiste do seu maior sonho: construir uma universidade.
Fonte: G1

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