Um amigo comentou que assistira ao vídeo do Rev. Augustus Nicodemus sobre a dificuldade em encontrar base bíblica neotestamentária para a entrega de dízimos. Comentou também de outro vídeo que tratava o assunto ainda com maior profundidade do que o vídeo do Rev. Augustus Nicodemus. Mas ele compartilhou comigo a dúvida que permaneceu mesmo após assistir aos dois vídeos.
“Não há amparo bíblico no Novo Testamento para a continuidade da prática de entrega do dízimo. Há apenas a possibilidade de defender as ofertas através dos textos paulinos, que diversas vezes mencionou a coleta de ofertas. Se o argumento é que o dízimo era uma prática veterotestamentária e não mais encontrava espaço na nova realidade da Graça, por que a oferta foi mantida no Novo Testamento uma vez que a Lei contemplava tanto o dízimo quanto a oferta? Segundo Malaquias 3:8 - 'Vocês me roubam nos dízimos e nas ofertas', Se o dízimo não pertence mais à realidade do NT, a oferta também deveria ter sido descontinuada, pois as duas práticas estão previstas na Lei.”
A primeira observação que gostaria de fazer é que a Lei foi “revogada” em sua totalidade para os evangélicos, menos o dízimo! – Eu entrego o dízimo porque é mandamento do SENHOR. Mas, não guardo o sábado, como carne de porco, etc.... Essa realidade dos evangélicos já seria suficiente para mostrar que alguma coisa está errada. O argumento simplesmente não se sustenta! Ou toda a Lei ainda é válida, ou toda a Lei foi revogada.
Acredito que foi pelo mesmo pensamento que meu amigo acabou questionando também a entrega das ofertas. Deus era roubado nos dízimos e ofertas. Se o dízimo não faz mais parte da realidade do NT, então, a oferta também não deveria fazer. Quem defende a entrega somente das ofertas, porque a Lei não é mais válida na realidade do Novo Testamento para entregar dízimos, parece entrar em contradição quando defende a entrega de ofertas fazendo citações da igreja primitiva. No mínimo, parece ignorar o porquê da manutenção neotestamentária da oferta. Por que a oferta foi mantida e o dízimo não? Bem, aqui vai minha tentativa de trazer alguma luz para o assunto.
Oferta é um termo genérico demais. A oferta mencionada no Novo Testamento é bem diferente da oferta prevista no Velho Testamento da qual Malaquias faz menção. Ao fazer uma busca rápida no livro de Levítico, que trata das leis religiosas/litúrgicas, encontramos as ofertas que Malaquias provavelmente tinha em mente quando disse: roubamos a Deus nos dízimos e ofertas. Ofertas de cereais, Lv 2:1, 6:14-18, 7:9-10; ofertas do Dia do Perdão, Lv 23:26-32; ofertas especiais, Lv 8:29; ofertas da Festa do Ano Novo, Lv 23:23-25; ofertas da Festa das Barracas, Lv 23:33-34; ofertas da Festa da Colheita, Lv 23:15-22; ofertas da Festa do Pães sem Fermento, Lv 23:6-8; ofertas da Primeira Colheita, Lv 23:9-14; ofertas para a Ordenação de Sacerdotes, Lv 6:19-23, 8:22-28, 31-32; e ofertas de Paz, Lv 3:1-17, 7:11-21, 28-34. Essas são referências apenas do livro de Levítico, há outras ofertas mencionadas em Êxodo e Números.
É fácil perceber que todas essas ofertas eram ofertas de alimentos. Dízimo nunca significou entregar dinheiro; oferta, na maioria das vezes, também não envolvia dinheiro. Lembro-me apenas de três referências para dinheiro: Deuteronômio 14:22-29, Êxodo 30:13 e Números 18:15-16.
Dt. 14:22-29 é uma exceção para facilitar a vida de quem precisaria viajar longas distâncias para entregar o seu dízimo; ainda assim, o valor era novamente cambiado para alimento. Em Êx. 30:13 o valor não é tratado como dízimo ou oferta, é imposto; e em Nm. 18:15-16 o dinheiro poderia ser usado para resgatar o primogênito do sacrifício, o que não era obrigatório e estava claramente previsto na Lei. Esse dinheiro que circulava no Templo passou a ser coletado em caixas de ofertas como podemos ver em 2Reis 12:1-16. As caixas de ofertas parecem ter permanecido no Templo até os dias de Jesus – João 8:20 e Marcos 12:42 - para recolher ofertas voluntárias e valores cambiados. Ao todo, havia 13 caixas no Templo e os valores depositados em cada caixa tinham destinos diferentes no Templo. Para mais informações, extra bíblicas, de como essas caixas de ofertas eram administradas, consulte o Talmude (Shekalim capítulo 6). Contudo, observe que de uma caixa lá de Joiada em 2Reis 12, agora são 13 caixas no Templo no Novo Testamento. O que foi idealizado para arrecadar o dinheiro para pagar os operários do templo e comprar material para a construção virou algo muito além disso no NT.
Voltando ao assunto da "natureza" das ofertas, não faz sentido achar que Malaquias estava tratando das exceções. O povo provavelmente não entregava o dízimo e as ofertas como mencionadas naquela longa lista de Levítico.
Voltando ao assunto da "natureza" das ofertas, não faz sentido achar que Malaquias estava tratando das exceções. O povo provavelmente não entregava o dízimo e as ofertas como mencionadas naquela longa lista de Levítico.
Portanto, a oferta mencionada no Novo Testamento no contexto da igreja primitiva era “de natureza” totalmente diferente. A oferta neotestamentária era em dinheiro para o sustento dos ministros do evangelho e a caridade. Era uma oferta voluntária e não era uma espécie de ordenança como as ofertas veterotestamentárias. De fato, aquelas ofertas do Velho Testamento (ofertas de alimentos) que Malaquias mencionou junto com o dízimo não faziam parte da prática cristã no Novo Testamento.
Quem defende a entrega apenas de ofertas e a descontinuidade do dízimo geralmente apela para a realidade de um cristianismo sem Templo. O dízimo era para o sustento do Templo e o cristianismo não fazia mais parte do Templo e suas obrigações litúrgicas. Pois é... o cristianismo mudou um pouquinho, e, hoje, voltamos a ter templos para congregar. Se o dízimo sustentava o Templo, e o cristianismo primitivo não tinha Templo para sustentar; hoje, voltamos à necessidade do dízimo para sustentar nossos templos. Nada mais justo e coerente com o próprio discurso de quem se recusa a entregar o dízimo! Não pagamos as contas de luz, água, impostos e outros encargos dos nossos templos com aleluias e glórias. A igreja precisa de dinheiro! O dízimo volta à prática religiosa cristã não por ordenança da Lei, mas por necessidade administrativa, puramente econômica. Aqui, faço coro com o Rev. Augustus Nicodemus: não há nada melhor do que o dízimo para a igreja que busca ter uma boa saúde financeira, um provisionamento relativamente estável para que a igreja possa cumprir com todas as suas obrigações religiosas e jurídicas; afinal de contas, a igreja não é feita apenas de missões evangelísticas e caridade, mas também de impostos e outras obrigações jurídicas.
Entregue o seu dízimo, não para cumprir a Lei, mas como reconhecimento do cuidado de Deus com sua vida. Ele não deixou faltar nada, use o dízimo como testemunho da providência dEle em sua vida. Não entregue o seu dízimo como barganha. Você não entrega o dízimo para receber bençãos, mas porque recebeu bençãos! E oferte sempre que possível, o progresso do evangelho também precisa da sua oferta. Se aquele bônus, além do salário, faz bem ao seu bolso, a oferta, além do dízimo, também faz bem aos cofres da igreja. Afinal de contas, não dá para amar a Deus e ao dinheiro – Lucas 16:13. Se você está apegado ao dinheiro a ponto de não querer dizimar e ofertar, alguma coisa está errada com a sua fé!
Para reflexão, recomendo o vídeo do grupo OneTimeBlind no youtube.
www.andreRfonseca.com
Twitter: @andreRfonseca
Fonte da imagem: http://givewithjoy.org/day04.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário